domingo, 6 de abril de 2025

Título: Revista “HISTÓRIA” nº1 – Novembro 1978.

Título: Revista “HISTÓRIA” nº1 – Novembro 1978.

Sub-título: Os Militares e a Política. Do 28 de maio ao 25 Abril.

Impressão: Jornal do Comércio,1978

Páginas: 80 - numeradas


Classificado na temática: Geral.

Em Novembro de 1978, 4 anos anos após Abril de 1974, as Publicações Projornal, que detinha o semanário «O Jornal», lançava um novo projeto editorial, a revista “História”, com o preço de venda ao público de 50 escudos(1) e periodicidade mensal.

 

Na capa ilustração de Leal da Câmara originalmente publicada no número de 22 de Outubro de 1910 da revista francesa «L`Assiette au Beurre», inteiramente dedicada a revolução republicana portuguesa, gentilmente cedida pela Casa Museu Leal da Câmara, Rinchoa (Sintra). Ilustração que serviu igualmente de suporte, para a propaganda republicana, em postais ilustrados.

 

Postal ilustrado - acervo BMR

O destaque da capa para dois temas, «Portugal de 1850 ao Princípio da República» por Joel Serrão(2) e «Os militares e a política.Do 28 de maio ao 25 de Abril» da autoria de José Freire Antunes(3).


Estrutura e Sumário

Foi primeiro Diretor da revista Luís Almeida Martins (n.1947), Jornalista e escritor, licenciado em Filologia Românica pela Faculdade e Letras da Universidade de Lisboa. Dos colaboradores da revista neste número consta um vasto leque de prestigiados e reconhecidos académicos. Com algumas surpresas, para alguns leitores, a título de exemplo a ligação de Alberto Cutileiro ao colecionismo de figurinos militares (ver video), e que assumia a responsabilidade dos artigos, publicados na revista, sobre esta matéria.

A revista propunha-se preencher uma lacuna verificada no panorama editorial  do Portugal dos anos 70, pós 25 Abril de 1974. Procurava divulgar e dar a conhecer a História, com objetivo didático,  compatibilizando a qualidade dos textos, não necessariamente longos e pesados, com uma linguagem clara e acessível a todos, viajando no tempo da antiguidade à atualidade. A revista na sua estrutura editorial propunha 4 rubricas fixas, a saber, Notícias, Figurinos Militares, Livros e Jogos de Guerra, esta ultima da responsabilidade de Vitor Amorim (Blogue do autor).

Dos dois textos da capa, destacamos  o de José Freire Antunes intitulado  «Dos tenentes de Maio aos capitães de Abril (os militares Portugueses do século XX)», -  página 26 a 31-,  pela sua atualidade e curiosidade do seu final.

 


O artigo é estruturado em 7 partes e aqui, neste resumo, com alguma criatividade, e não exatamente cópia do original, mas sem o ferir, ficam as  ideias chave e linhas condutoras.

- Iª - nas palavras do autor o artigo escrito, que inicialmente seria restrito à intervenção militar de 28 de maio de 1926, evoluiu no seu todo, para um conjunto  de umas quantas "reflexões avulsas e naturalmente controversas, sobre o papel das Forças Armadas na sociedade Portuguesa do século XX".

- IIª - Diz-nos Freire Antunes, que as Forças Armadas, um dos pilares do Estado, não são apolíticas, e não estão imunes ás crises económicas, ás convulsões sociais   e às ruturas políticas. Constata que de 1820 a 1974 os marcos históricos principais revestiram a natureza de golpe militar, e o "poder político brotou da ponta das baionetas", refere-se obviamente ao 5 Outubro de 1910, ao 28  de Maio de 1926 e por último ao  25 de Abril de 1974, este ultimo, dizemos nós, em que, simbólica e poeticamente, a baioneta se fez substituir pelo Cravo, o que  em nada altera a exata afirmação de José Freire Antunes.

- IIIª - Dedicada aos 16 anos de duração da Primeira República (se a esta dermos como tempo de vigência Outubro de 1910 a Maio de 1926)  o texto alerta para a fracassada, porém patriótica  intenção, por parte da República, através do partido Democrático de republicanizar e democratizar os militares confinando-os aos quarteis, «felizes e impolíticos», acrescentando ainda sobre esses mesmos militares «Políticos para defender a Republica, impolíticos para a atacar».

Mas tudo mudaria após a IWW. Os militares tornar-se-iam atores do espaço político entre 1917 a 1926, chefiando vários dos 26 governos empossados. Recordando: Sidónio Pais (1917-1918), Canto e Castro (1918 ), Tamagnini Barbosa (1918-1919), Sá Cardoso (1920),António Maria Batista (1920), António Granjo (1920), Alavaro de Castro (1920), Liberato Pinto (1920-1921), Manuel Maria Coelho (1921), Carlos Maia Pinto (1921), Francisco Cunha Leal (1921-1922), Alfredo Gaspar (1924), Vitorino Guimarães (1925),  todos eles com formação militar, alguns dos quais ocuparam  função mais que uma vez.

A ditadura militar de 1926, que liquida a Iª republica, nasce  do fracasso da esquerda portuguesa, incapaz  de promover e levar a cabo um projeto político nacional que que concretizasse as expectativas  e anseios resultantes do 5 de Outubro de 1910.

- IVª -  Os militares foram a força e o medo de Salazar. Elevado por aqueles ao cume do Estado, tinha noção que só permaneceria com o amparo e abstinência dos militares, de quem desconfiava e procurou anestesiar. Seguindo Maquiavel, recompensou os militares, nomeando-os governadores provinciais, distritais, cmdts de polícia, administradores de empresas e de serviços públicos. Como cereja no topo do bolo concedeu-lhes o lugar de presidente da República e assim foi até 1974 ( Óscar Carmona, representante do Exército, Francisco Craveiro Lopes, da Aeronáutica, Américo Tomás da Armada. Adormecido o Exército,  silenciados os armas nos quartéis, o exército tornou-se a guarda pretoriana do regime, "tudo a bem da nação". Faça-se então a pergunta , e a bem dos Militares? Diz-nos José Freire Antunes que do "bem dos militares" talvez não. A Meritocracia, foi muitas vezes esquecida, a delação elevada a virtude militar, o filtro ideológico passou a vigorar nas escolhas efetuadas, «a PIDE invadia as casernas , o patriarcado abençoava» e um capitão sem Estado-Maior mandava mais que generais.

Vª - Tanto em 1926 como em 1974, não obstante com resultados opostos as Forças Armadas, podendo-se ler aqui maioritariamente o Exército, não obstante resultados diferentes  agiram por idênticas, iniciais ou no todo, razões profissionais, económicas e sociais. Os Tenentes de Maio foram a força motriz do Golpe 1926 e precisavam de um General com cabeça. Os Tenentes de Maio sentiram-se prejudicados pela Lei da Milícia de 1921 , que abria  as portas do exército aos milicianos, retardando a promoção a capitão dos oficiais do QP. Problema similar  motivou, 48 anos depois, os "Capitães de Abril", atente-se ao Decreto-Lei 35373 de 13 de Julho de 1973 ( ler), rastilho  que despoletou o Movimentos dos Capitães tinha um triplo objetivo, profissionalizar os milicianos, promover muito destes ao posto de Major porque tinham idade mais avançada, portanto menos própria para o Cmd de companhias, retardando a promoção de capitães menos jovens, aumentado assim a permanência no posto, e isto afetava principalmente os  oficiais exclusivamente formados na Academia Militar e portanto não oriundos de Milicianos.

VIª - O impacto da crise económica (diminuição do poder de compra, inflação galopante) fazia com que a classe política da Iª Republica fosse odiada pelos Tenentes de Maio. Igualmente o agravamento do custo de vida,  e corte de regalias, afetava os subalternos e capitães de Abril, não já exclusivamente oriundos da aristocracia, mas de vários extratos da classe média, que se sentiam sufocados e atirados para uma guerra sem fim, em nome de um regime e sistema que ia ruindo e apodrecendo. Foi este espírito de sentir e esta noção da realidade e de revolta que conseguiu unir oficiais de patentes diversas e com diferentes sensibilidades e consciências políticas.

VIIª - Diz-nos Freire Antunes que durante o século XX  a população portuguesa viu a instituição castrense, como um exército de salvação, capaz de responder positivamente aos seus  anseios e esperanças, que não via serem respondidas e concretizadas pela classe política, assistindo sim «ao espetáculo de castas dirigentes entregues ao doce narcisismo de bastidores, sugando os cofres públicos».

Recordando:

- Em 5 Outubro de 1910, o Partido Republicano Português sobe ao poder aos ombros  das Forças Armadas, por ação  de um grupo de soldados e sargentos, comandados por um oficial de administração Naval.

- Em 1917  o mito de um major, Sidónio Pais, presidente-rei, qual Dom Sebastião, amado por todos, mas que a 14 Dezembro de 1918, já tendo escapado ileso a uma anterior tentativa de assassinato,  cai baleado na estação do Rossio, deixando vaga uma cadeira, que só será ocupada 8 anos depois.

- Em 28 de maio de 1929 , «as Forças Armadas funcionaram como uma espécie  de partido antipartidos, destroçando o edíficio parlamentar». A cadeira volta a ser ocupada, Salazar é o senhor que e segue, nela permanecerá longos anos. Vieram Norton de Matos e Humberto Delgado, porém o mesmo Senhor permaneceu sentado na cadeira.

- Em 1974 os militares voltaram a sair à rua e em menos de 24 horas destroçaram um regime apodrecido, gasto, e cansado , trazendo de novo ao povo a esperança e o que  este tanto ambicionava, a Democracia. Era Dom Sebastião que voltava já não montado num cavalo branco mas numa chaimite. E Abril trouxe outros Dom Sebastião, como o autor nos faz lembrar Sebastião de Spínola, Vasco Gonçalves, Otelo, Pires Veloso, Galvão de Melo, Pinheiro de Azevedo, Ramalho Eanes.

Em 1978, José Freire Antunes , termina o seu texto  escrevendo «E no futuro mais do que ás inaptas capelas partidárias, os conservadores portugueses, órfãos das colónias, desnorteados e com a mitologia dos séculos, ás costas, vão apelar aos D. Sebastião de quatro estrelas.».

Oh Portugal...Portugal, assim foi e assim poderá voltar a ser...


1 Em 1978 o salário mínimo nacional, em escudos, variava conforme o sector de atividade. Comércio e serviços 5700$00, sector agrícola 4500$00, serviço doméstico 3500$00. O preço da revista representava no máximo 1,5% do salário mínimo mais baixo. 

2 Joel Justino Baptista Serrão (1919-2008), Licenciado em Ciências histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Professor em diversos graus de ensino e estabelecimentos, entre os quais Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Agraciado com a comenda da Ordem da Liberdade. Membro do conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkien.

3 José Freire Antunes (1954-2015), Historiador, Mestre em Relações Internacionais , pela Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidade Complutense de Madrid, Adjunto político do Primeiro Ministro Aníbal Cavaco Silva, Deputado da república na X legislatura ( 2005-2009). Autor de diversos livros

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