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Em 18 de Março de 1871, eclodia na cidade de Paris, possivelmente, a mais importante insurreição popular do século XIX, conhecida, para a História, como Comuna de Paris. Durante 73 dias, de 18 de Março e 28 Maio de 1871, o proletariado revolucionário proclamou e viveu o primeiro governo socialista da história. O acontecimento foi consequência da conjuntura política, económica e social da época, mais concretamente da crise nacional do regime Bonapartista que começava a desintegrar, da evolução e consequência do desfecho da guerra Franco-Prussiana, com estes à porta de Paris, e da ascensão, entre o proletariado, dos ideais Socialistas , muito por via da expansão da AIT - Associação Internacional dos Trabalhadores, como resposta à acelerada evolução do capitalismo que vai espicaçar prematuramente o surgir de conflitos de classe.
Sobre a Comuna de Paris, escreveria Mikail Bakunine em "A Comuna de Paris e a Noção de Estado": «O socialismo revolucionário acaba de tentar uma primeira manifestação brilhante e prática na Comuna de Paris. Sou um partidário da Comuna de Paris, que, por ter sido esmagada, sufocada em sangue pelos verdugos da reação monárquica e clerical, não por isso deixou de se fazer mais vivaz, mais poderosa na imaginação e no coração do proletariado da Europa; sou seu partidário em grande parte porque foi uma negação audaz, bem pronunciada, do Estado.É um fato histórico imenso que essa negação do Estado tenha se manifestado justamente na França, que foi até agora o país por excelência da centralização política, e que seja precisamente Paris, a cabeça e o criador histórico dessa grande civilização francesa, que tenha tomado essa iniciativa. Paris, que abdica de sua coroa e proclama com entusiasmo sua própria decadência para dar a liberdade e a vida à França, à Europa, ao mundo inteiro; Paris, que afirma de novo sua potência histórica de iniciativa ao mostrar a todos os povos escravos (e quais são as massas populares que não são escravas?) o único caminho de emancipação e de salvação; Paris, que dá um golpe mortal nas tradições políticas do radicalismo burguês e uma base real ao socialismo revolucionário; Paris, que merece de novo as maldições de toda gente reacionária da França e da Europa; Paris, que se envolve em suas ruínas para desmentir solenemente a reação triunfante; que salva com seu desastre a honra e o porvir da França e demonstra à humanidade consolada que se a vida, a inteligência e a força moral retiraram-se das classes superiores, conservaram-se enérgicas e cheias de porvir no proletariado; Paris, que inaugura a nova era, aquela da emancipação definitiva e completa das massas populares e de sua solidariedade de agora em diante completamente real, através e apesar das fronteiras dos Estados;Paris, que mata o patriotismo e funda sobre suas ruínas a religião da humanidade; Paris, que se proclama humanitária e ateia e substitui as ficções divinas pelas grandes realidades da vida social e a fé na ciência; as mentiras e as iniquidades da moral religiosa, política e jurídica pelos princípios da liberdade, da justiça, da igualdade e da fraternidade, estes fundamentos eternos de toda moral humana;Paris heroica, racional e crente, que confirma sua fé enérgica nos destinos da humanidade por sua queda gloriosa, por sua morte, e que a transmite muito mais enérgica e viva às gerações vindouras; Paris, inundada no sangue de seus filhos mais generosos, é a humanidade crucificada pela reação internacional coligada da Europa, sob a inspiração imediata de todas as igrejas cristãs e do grande sacerdote da iniquidade, o Papa; mas a próxima revolução internacional e solidária dos povos será a ressurreição de Paris. Tal é o verdadeiro sentido e tais as consequências benfeitoras e imensas dos dois meses memoráveis da existência e da queda imortal da Comuna de Paris».
Em Portugal Burguesia que frequentava o Passeio Público(a) e o Teatro Circo Price(b) indignava-se e alarmava-se sobre o seu futuro e o da Europa. Porém o País não tinha apenas Monárquicos, os Republicanos e Socialistas rejubilavam com a grande revolução que se passava em França.
A obra de Ana Maria Alves, lançado quando dos 100 anos da Comuna de Paris, tem dois propósitos. Um primeiro o de sondar a mentalidade da Burguesia portuguesa através das reações publicadas na época pela imprensa. A Burguesia Portuguesa viveu o acontecimento entre o alarmismo e o escândalo. A Imprensa Portuguesa fez, em grande medida, eco da francesa e da restante imprensa europeia na condenação à Comuna de Paris. O segundo objetivo foi o de procurar as influencias da Comuna na teoria e prática Socialistas em Portugal recorrendo a depoimentos, à imprensa Socialista, e à ação da classe operária.
(a) - Vários períodos e fases, no seu todo ocupava na altura grosso modo o espaço envolvente desde a atual zona do Rossio até à Praça Alegria, expandindo-se já mais tarde até à atual Praça Marquês do Pombal.
(b) - Inaugurado em 1860 veio ocupar o espaço da primeira praça de touros que existia em Lisboa, e veio a ser demolido em 1882, para dar lugar à Avenida da Liberdade.
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